sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Aquela Moça


Um guarda-chuva laranja no céu prateado, e o sol escondido dentre as nuvens a lhe vigiar. Era assim por onde passava e sua presença não permitia outro assunto. Para quê tanta lindeza num ser só? Cada vez que aparecia renovava as desilusões de Elias Prudente, que desde que saíra da república soteropolitana aprendeu a conviver consigo mesmo num pensionato barato, alternando e integrando os desafios de sua mente maliciosa e gentil ao mesmo tempo, sempre invocado como aquela presença o atraía.



Todos os dias, às seis e meia da noite Selena caminhava na orla. Para ela era um meio de manter corpo e mente em equilíbrio, além do mais, adorava aparecer e despertar olhares taciturnos, não que fosse leviano da sua parte, mas só assim sentia-se mais viva. Por onde ela passava, deixava o ar impregnado com o odor do desejo por ser um misto elegante de personalidade aparentemente ingênua e uma face, que rosto assim só Deus para lapidar, citrina, com olhos escuros e melancólicos.

Na prosa Elias Prudente com seu temperamento impulsivo conseguiu reduzir a distância, sem medo de submeter-se ao ridículo. Não durou muito tempo para que começassem a caminhar juntos. Quando ele pegou na mão de Selena pela primeira vez – para devolver uma caneta que acabou de cair, percebeu que não era apenas a sua mão que estava suada. Selena passou a caminhar por duas horas e não mais uma como era de praxe.

– Preciso caminhar mais, Elias. Na universidade as coisas não estão empolgando e só assim para me distrair.

– Um bom pretexto – foi assim que ele respondeu com um sorriso no canto da boca, já prevendo os outros dias que viriam. Não precisava de nenhum baralho para prever o futuro.

Enquanto a face de Selena se tornava avermelhada, procurando em sua mente uma maneira de reerguer a cabeça com altivez e desfazer do pensamento correto e constrangedor de Elias Prudente, o rapaz foi mais rápido e incisivo:

– Não se assuste, não é a primeira vez que uma mulher fica louca por um homem – disse isso numa voz decidida.

Desarmou completamente a jovem garota, que em vez de replicar o comentário, preferiu esconder a timidez e se despedir, na tentativa de despistar o seu coração e o de Elias, naturalmente.  Se Selena ainda tinha dúvidas, elas foram mortas agora, pois as borboletas surgiam em todos os lugares sempre que pensava no rapaz. Para Selena esse era seu pior defeito e sua melhor qualidade: “Elias Prudente diz sempre o que não deveria dizer”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário