quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Zé Sereno, 62 quilos de melancolia

Ele pesava há dois meses um total de 64,5 quilos. até agora perdeu 2,5 quilos, o que dá em média 42 gramas a menos por dia. O motivo é seu coração. Não no sentido dele ter algum problema cardiovascular, foi a dor de um amor jamais correspondido que infelizmente só descobriu depois de passados 853 dias. Uma traição no meu ponto de vista.

O coração desse pobre soldado vinha batendo meio coisado, não existia consolo para reduzir sua disritmia, não existia travesseiro suficiente para cobrir seus sonhos tortos, nem cobertor para acalentar seus devaneios, nem viagens para fugir do mundo.
Entre um copo e outro, o peito do infeliz emitia um estranho ruído. De vez em quando na mesa, a gente escutava um estranho zumbido. Eu tinha medo de acompanhá-lo numa embriaguez mútua como sempre fazíamos nos bons tempos. Desde que ela foi embora, assim, sem mais nem menos mesmo, no auge da paixão apesar dos dias todos transcorridos, ninguém mais parece estranhar quando o pobre se derrete e chora. Estava se tornando um hábito. E eu estava terrivelmente mal por não ter condições de ajudá-lo, meu grande camarada de tantos tempos agora parecia ter se entregado. Não tinha como animá-lo, ele acabava sempre tudo com um discurso inconformado, e todos acabavam concordando. Não havia como relutar contra seus argumentos, o coração sempre acerta quando colide com a razão.

Zé Sereno optou se distanciar de nós amigos, pelo que consta iniciou uma fase negra da sua vida. Álcool já era nosso costume, apenas o volume ingerido que assustava, e segundo as más línguas, o pobre soldado estava no ácido. Zé Sereno não era mais o mesmo, era apenas sua sombra. Eu tentava me lembrar como ele era sem o ácido, como ele era sem o litro de conhaque, mas foi tudo apagado da minha mente. De Zé Sereno só lembrava de sua sombra.

Foram alguns longos dias e ele reapareceu, no mesmo bar, em nossa mesa. Sua aparência estava melhor, apesar de sua pele relativamente flácida para seu sangue jovem e dos ossos da maçã do rosto visíveis. Conversamos um pouco sobre coisas alheias a tudo isso, alguns vezes sua feição esboçava alguns sorrisos. Depois de algumas horas ele me contou que estava superando tudo isso: "A melhor maneira de esquecer
uma mulher, é transformá-la em literatura". Curioso, jamais tivera pensando nisso, mas fazia muito sentido.

O convalescente Zé Sereno escrevia como um louco. Eu li um pouco de seus rascunhos. Incrível, como a arte pode dar dimensões ricas e belas a uma vida tão acidentada, recheada de rancor e amargura?

Suas ambições literárias eram grandes demais, e potencial, no meu ponto de vista, tinha tanto que sobrava. Cada letra, cada palavra reproduziu em mim sintomas únicos, intensos. Não havia como ler rapidamente, era preciso degustar aos poucos, para dar tempo de digerir toda a informação e sentimentos envolvidos naquilo. Eu nunca soube desse talento nele, acho que nem ele mesmo sabia.

Zé Sereno parece agora ter superado seus 853 dias, tem um agente da editora trabalhando dia-a-dia com ele. Como seu trabalho caiu no gosto da editora, está tendo muito incentivo em publicidade e a tiragem inicial planeja vai além do que a média dos novos escritores.

O filósofo espanhol Ortega Y Gasset uma vez escreveu: “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Já o poeta Fernando Pessoa gostava de dizer que havia “um eu profundo e os outros eus”. Zé Sereno não acredita
nesses pensadores, tornou-se excêntrido demais para isso. A diferença é que agora ele pode.

E o melhor de tudo, sempre que podemos estamos ainda naquela mesma mesa.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lolita

Embora a vida não tenha me tratado com amor, às vezes ela me brinda com pequenas alegorias gratuitas.

Sentir todos os dias a solidão rastejar na minha pele como um ar frio adentrando as mangas do casaco até chegar ao ventre, parece uma doença. A solidão é também um mal físico, não só emocional. Carregar esse fardo consigo dia após dia infecta a vida e tentar disfarçá-la com mimos, certas "companhias" e bebidas pode adiantar a doença para uma fase terminal.

Tenho conhecido pessoas novas, algumas mulheres interessantes, outras nem tanto. Não é um ato de busca, é só de liberdade, uma liberdade mental do tipo que te faz frequentar lugares diferentes com pessoas mais diferentes ainda. De todas as pessoas que conheci, destaca-se uma certa mulher. Não é o tipo de pessoa que teria interesse, apesar das curvas. Mas seu charme provoca em mim os sentimentos mais carnais. Seu tom de voz sedutor, seus lábios carnudos, seus cabelos negros e lisos, relativamente curtos como os de Lois Lane na década de oitenta, seus olhos brilhantes, redondos e absolutamente negros como o breu da noite mais sombria que possa imaginar. Tudo isso é muito provocativo. E o que ainda pior, a reciprocidade do afeto notada em cada conversa, ligação ou mensagem de texto. Gente assim é Deus quem faz, mas o diabo é quem tempera.

O ideal seria evitar um envolvimento, ou até mesmo me afastar. Há aquele ditado que diz algo como "essa mulher é chave de cadeia". Por outro lado há aquele em que diz "a melhor maneira de se livrar de uma tentação é cedendo". Prefiro este último.

Convidei para sair uma vez, outra vez e mais uma vez. Estávamos cada vez mais ligados, eu atento a cada suspiro, ela curtindo os momentos despreoculpadamente. Ainda não havia acontecido nada, não por ausência de desejo. Na verdade estávamos nos prendendo para não arrancarmos o pescoço um do outro, tamanha euforia que corria em nossos sangue juvenil a cada despedida. Ambos sabíamos que era inevitável.

De todos os encontros um foi mais íntimo. Esse último. Ela veio para meu apartamento, todos os amigos de república estavam em suas respectivas cidades. Era só eu, ela, um bom vinho que havia comprado para ocasião e um filme (Lolita, baseado em romance do escritor russo Vladimir Nabokov, publicado em 1955 pela primeira vez).

Em nosso quarto ou quinto gole de vinho, nos vinte primeiros minutos de filme, ela virou seus dois negros olhos para mim, deu um sorriso com o canto da boca e retornou para o filme. Evidentementemente que não consguia mais prestar atenção no filme (já o tinha assistido três vezes na versão de 1997 dirigida por Adrian Lyne e outras duas na primeira versão, a do famaso diretor Stanley Kubrick, em 1962). Se havia alguém cauteloso ali do lado dela, esse alguém não existia mais, toda a racionalidade foi perdida no ato.

Depois de mais uns quinze minutos, ela já estava sob meus braços, e num movimento brusco posou seu corpo em cima do meu, me surpreendendo com tamanha agilidade e com seu poder de dominação. Começou a rir para mim, mas sem amostrar os dentes, fitando-me com os seus grandes olhos negros e retirando com sua mão direita uma mecha de seu cabelo que ficara entre as lábios. Eu estava absolutamente sem ação, exceto pela minha euforia que agora já era perciptível. Retribuí o sorriso numa tentativa de amenizar minha face de surpresa e levando por menos toda minha euforia. Ela se aproximou do meu peito. À essa altura minha camisa de botão já se encontrava semi-aberta. Chegou um pouco mais perto do meu rosto e com um toque sutil encostou seus lábios nos meus e os retirou imediatamente, voltando a fitar-me com seus olhos, agora mais brilhantes do que nunca. Minha mão direita passeou pelos seus cabelos, nesse instante senti um calafrio vindo de seu ventre, e quando finalmente tentei tomar posição da situação, ela recuou e retornou a vidrar seus olhos no filme e sua mão na taça de vinho. Não tive outra escolha, a não ser acatar tudo aquilo. Ela venceu, tinha exercido todo o domínio sobre mim.

Continuamos com o filme e o vinho. Havia selecionado o filme por sua história fantástica, seu poder atrativo e pelas cenas um pouco mais fortes, evidentemente. Só não iria prever que agora eu seria o professor de poesia francesa Humbert e ela Dolores Haze (a Lolita do filme, que apesar da idade tem sob o professor completo domínio). Se fosse para ser como no filme o final, teria escolhido outro. A primeira garrafa havia acabado, iniciamos a segunda enquanto o filme mal tinha chegado na metade. O tempo passava muito lentamente. Confesso que estava tenso. Nunca ninguém provocou tamanho sentimento de submissão em mim, mas já era tarde demais, não tinha como voltar e mesmo que tivesse, não voltaria.

Finalmente o filme terminou. Conversamos um pouco sobre o filme. Fiz uma comparação sarcástica, porém bem-humorada sobre ela e Lolita. Ela sorriu. Procuramos algo na geladeira para comer (eu sei, nada romântico). Achamos queijo e presunto. Cortamos em rodelinhas para nós petiscarmos com auxílio de um palito. Enquanto terminávamos o vinho, liguei o som. Num volume bastante confortável coloquei o álbum The Blues Never Die (1981) do cantor e gaitista Charlie Musselwhite. Pronto! Tudo perfeito. Um bom vinho, meia luz (mesmo com o final do filme deixei a luz propícia), blues e euforia. Bastante euforia.

Com um pouco de humor fui até ela, primeiro encostei meu rosto em seu pescoço enquanto ela me abraçava. Sua mão esquerda veio até meu queixo, erguendo-o. Agora seus lábios estavam na altura dos meus. Desta vez fui eu quem encostou nossos lábios sutilmente, retirando-os imediatamente quando percebi que ela ganhara euforia com aquilo. Estava tentando agora, não dominar a situação, mas chegar no mesmo nível, pelo menos. Nossos corpos ficaram quentes o bastante para aquela noite fria. Ela segurou minha mão, fazendo-a deslizar nas suas curvas. Enquanto minha mão subia desabotoei a parte superior de sua blusa, deixando um espaço suficiente para retirá-la sem complicações. Ela usava suas duas mãos, mas não as controlavam muito bem, pois precisei ajudá-la para desabotoar o resto da minha camisa. Em seguida ela retirou sua blusa, amostrando seu sutiã de cetim branco. Éramos um do outro.

Ela segurou minha mão esquerda, me puxando até o quarto.

Me empurrou até a cama e trancou a porta.

No outro dia acordei cedo, mas não abri os olhos. Imaginei que foi um sonho ou que ela não estaria mais lá. Fui surpreendido com sua mão sob meu peito e com uma pergunta: "Acordou?". Assenti com a cabeça e perguntei como ela descobrira. Ela disse que sentiu a mudança de minha respiração. Nesse momento pensei que ela fosse dizer alguma coisa brega, mas felizmente não o fez. Apenas ficou em silêncio, mirando meus olhos com seus vivos olhos negros. Não poderia ter sido melhor.


Jorgin, O Maneiro

sábado, 15 de janeiro de 2011

- E agora? - E agora estou bem.

Sinto muito, mas a dor fez-se sucumbir. As doses letais do amor estão sendo expelidas aos poucos. O coração se regenera lentamente. O egoísmo e a negação funcionam agora como glóbulos brancos, eles agora me protegem. Rezo para que sejam fortes o bastante e suportem esses dias finais de febre e intensa agonia, segundo o diagnóstico. Depois será preciso nutrir. Como? Como eu não sei. Me falaram que minha saúde suporta apenas três dessa. Estou otimista com isso, ainda restam duas.

O remédio também não sei, mas o exílio fez muito bem, obrigado. Certos lugares podem funcionar como uma Unidade de Tratamento Intensivo. Olinda foi minha UTI. Certos amigos parecem a equipe de Dr. House do seriado americano. Eles sentam, vêem os sintomas, os órgãos atingindos e o que mais couber. E só depois ajudam. Cada um com parcela de contribuição, assim como um time. Agora não me pergunte mais nada, estou satisfeito com o resultado e isso para mim basta.

Você que gostou de ver minha doença, não parece conformado com minha cura. Por que tantas perguntas? Por que querer me ver sangrando lentamente? Estou bem agora, não precisa mais de tudo isso.

Depois dessa minha fase, ainda tenho (in)sanidade para os sonhos. Antes murchos como maracujá velho, agora parecem mais maçãs lisinhas, coradas e doces.

As ambições? As ambições são poucas, mas são intensas e sadias. Me assustam essas suas perguntas, está parecendo querer me colocar contra a parede. Não precisa se referir a mim nesse tom grosseiro. Bem, está certo, eu respondo essa. Eu só queria ter a chance de interpretar o Capitão Garfo (com direito ao bigode postiço, capa vermelha, chapéu semi-pontudo preto com uma pena vermelha na extremidade, sotaque carregado e rígido e, na ponta de cada mão, escondidos sob as mangas compridas, um garfo e uma faca) para meu herdeiro birrento sem vontade de comer. Ou colocar as bonecas horríveis da Barbie no fundo do congelador enquanto incentivo à brincar pé-de-barra com os moleques na rua. Adoraria ver o garoto com a ponta do dedão ensanguentada por uma topada no paralelo da pracinha enquanto jogova bola.

Veja bem, o sol já nasceu para mim. Não é mais necessário isso. Estou bem, cada vez um pouco melhor. Você também. Então vamos seguir assim, cada um nasceu para aquilo que hoje é. Não pode mais interferir em mim, nem eu em você.

Não fique com tanta raiva, você ainda pode ser meu amigo (no dia em que tiver enjaulado).


Adeus,
Jorgin, O Maneiro.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Circo da Solidão

Uma vez me disseram que quando se está triste há muito mais assunto.


Reza a lenda que um dia, num circo longíquo de um interior nordestino, os dois melhores artistas do espetáculo se apaixonaram: O Palhaço e A Bailarina. Ou pior, O Palhaço se apaixonou pela Bailarina.

No começo O Palhaço tentava conquistá-la com sorrisos. Mas em sua graça não havia glamour. Pobre Palhaço. Todavia, A Bailarina soube reconhecer seus esforços, e ainda, ver nele outras atribuições brilhantes. Poderiam formar um belo casal e até que um dia finalmente formaram. Um trágico erro para o picadeiro, mas eles ainda não sabiam.

A Bailarina era bela, adimirável, facilmente apaixonante. Havia sutileza em seus movimentos, muitas curvas, e elegância. Tinha muito carisma e um sorriso que outrora ninguém mais veria outro como este.

O Palhaço, apesar da profissão, não tinha muito dom para as piadas, todavia A Bailarina ria, elegantemente sorria. Suas piadas pareciam inteligentes demais para seu público, mas não para A Bailarina. Ela compreendia tudo, e o melhor, gostava. Inerente a sua profissão, O Palhaço não tinha jeito algum com as mulheres. Nunca soube disfarçar sequer um arroto. Mas esse era o seu charme. O Palhaço era natural, e apesar de seu disfarce, era um ser humano completamente sensível e solidário.

Tudo ocorrera de modo perfeito. Perfeito demais para ser real. Os dois agora eram um só. Passavam a madrugada contando estrelas deitados no gramado verde e aconchegante, um pouco húmido pelo clima noturno, de uma modo bastante confortável. Suas cabeças, deitadas sob a grama, ficavam unidas e seus corpos em lados opostos. Adoravam fazer isso pois poderia conversar sussurando, olhar o céu carregado de estrelas e no ápice da paixão, se beijariam. A Bailarina até absorveu um pouco de humor para suas apresentações, assim como O Palhaço, que agora aprendera a ser mais sutil, porém sem perder o humor.

Ambos caminhavam para o caminho certo, o auge da união. Faziam muitos planos. Planos até demais.

Como nada nesse mundo pode ser belo o suficiente... Um novo integrante faz parte da trupe: O Mágico.

Ele não era mágico coisa alguma, fazia apenas ilusionismos chulos, mas a plateia adorava. Conseguiu conquistar cada vez mais adeptos e o circo tivera que acrescentar mais assentos. Todos o adoravam, exceto O Palhaço. O Palhaço sabia que O Mágico sempre tinha uma carta na manga. Era pobre de espírito e ninguém mais via, apenas O Palhaço. Estava se sentindo uma estrela no picadeiro. Seu camarim agora era o melhor.

A Bailarina sucumbiu aos ecantamentos do Mágico, pois este, possui a arte ilusionista da sedução. A sedução dele possui uma textura apenas externa, baseado em doces palavras, palavras que O Palhaço jamais dissera para Bailarina, mas sempre sentira profundamente mais que qualquer humano poderia pronunciar com qualquer que sejam as vogais e consoantes deste ou de qualquer planeta.

Pobre Palhaço, na noite anterior estava com as pupilas dilatadas de tantas juras de amor. Tudo em vão. Sumiu assim, rapidamente. Renegado pela Bailarina, O Palhaço sente a dor da traição, não essa traição carnal que humanos não cansam de comentar. Mas uma traição singela, que fez seu coração ser perfurado por milhões de pequenas agulhinhas, cujo efeito seria capaz até de derrubar o mais sensato e racional dos humanos.

Borrou sua maquiagem de tanto chorar. O Palhaço perdeu seu encanto. Já não tinha mais graça. Estava difícil manter o público nos assentos até que um dia simplesmente desistiu. O Palhaço queria sumir. Esquecer tudo aquilo, e recomeçar uma nova vida. Quando criança aprendera o ofício de sapateiro. Poderia ser um agora, mas lá no fundo sabia que o único sapato que sabia concertar eram os seus sapatos enormes, feitos no tamanho ideal para fazê-lo tropeçar mesmo quando não queria. Por tanto se dedicar ao esquecimento de sua desilusão, mais pensara nela. É natural. Numa reflexão, ele percebeu que os fracos e oprimidos fogem, pois assumem a derrota. O Palhaço definitivamente não era fraco. Era um vencedor, e um vencedor não se entrega, nao foge e jamais sucumbirá a derrota.

Por sua longa jornada no circo, é aceito novamente. Guarda em sua mente as piadas mais sarcásticas que só sua experiência fora capaz de criar. Foi um retorno brilhante. Ainda sente um pouco a frustração do amor perdido, mas agora fica muito bem enquanto está só. Ainda dói um pouco ver A Bailarina, mas sabe que o tempo faz mais convertidos do que a razão e até mesmo o coração.

O Mágico e A Bailarina ainda estão juntos, mas perderam a magia e boa parte do seu público.




Com um grande respeito a todos que se sentem bem sob a grande lona do circo,
Jorgin, O Maneiro.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Olinda, Eterna

Já ouvi dizer que o lar do passarinho é o ar e não o ninho. Estou partindo para Olinda. Gostaria de ter coragem e jamais voltar. Quem sabe acertaria meus ponteiros lá? Não, melhor não. A fuga é a melhor alternativa para um covarde ou para quem não tem mais chances de lutar. Se bem que seria preciso muita coragem para fugir. Assim que eu chegar lá penso nestas alternativas o que apenas aumentaria meus complexos. Talvez eu nem tenha tanta vontade assim, já que tudo resulta em discursos. Se tivesse bastante vontade isso resultaria numa ação.

O maior motivo que me faz ir até lá é um poema de Lourenço Barbosa (ou Capiba):

Olinda, Eterna

Quisera ver
Teu passado, Olinda,
Quando era ainda cheia de ilusão,
Para contemplar a tua paisagem
Para olhar teus mares,
Ver teus coqueirais,
Pular na rua com a meninada,
Brincar de roda e de cirandinha
Depois subir a ladeira do mosteiro,
Rezar a Ave Maria E nada mais,
Rezar a Ave Maria E nada mais
Olinda! Eterna!
Olinda! Eterna!


Por enquanto é apenas isso,
Jorgin, O Maneiro

Despedida

Eu sei que sou um homem que não sabe das coisas, mas sei que tenho sido um homem que apesar disso sempre busca as respostas. A diferença é que agora não buscarei as respostas nas estrelas, nos livros, nas músicas e filmes. Começarei a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim, ouvir os ensinamentos que os mais velhos podem dividir. Os ensinamento heriditários, que apesar de 4,5 bilhões de anos dessa existência, nada mudou, e jamais mudará.

Minha história não é agradável, nem suave, nem harmoniosa como as histórias inventadas. Muito menos o final é feliz. Não é um conto de fadas, não é uma ficção. Só há insensatez, confusão, loucura e sonho, assim como a vida de todos os homens que não aguentam mais mentir a si mesmos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sem título #01

Engraçado, depois de alguns anos fui reler tudo que havia nesse espaço. Me arrependi profundamente de ter tido essa ideia estúpida.

Jorgin, o Maneiro

domingo, 2 de janeiro de 2011

Mal do século

Depois de alguns anos de clausura, há sempre um retorno.

Naquele tempo eu lembro que morava numa república da capital. A tendência seria de lá partir para cima, mas não para baixo. Pois bem, voltei para casa dos meus pais, no interior. Pode rir, não tiro sua razão. O fato que é altos e baixos de anos atrás, hoje para mim não passam de retas pouco inclinados.

Tenho escutado os mesmos sons de sempre, assistindo cada vez menos a filmes, ido cada vez menos para apresentações musicais, shows e cinema. Por outro lado, tenho lido um pouco mais (que isso não me traga mais responsbalidade na edição desse blog, já que não tenho talento algum, nem para o amor, ou melhor, muito menos para o amor).

Tá vendo? Por que cargas d'água citei a palavra amor nesse contexto? Não havia sentido algum comentar isso, ainda mais referindo a um talento, e não como um sentimento como convém. Pode ser porque por mais que tente se enganar, por mais que queira uma carreira brilhante, por mais que queira ser um explorador, por mais que seja bem sucedido em tudo isso, jamais será completamente feliz. Isto é, há aqueles solitários que pensam em ser feliz com isso, mas se eles tivessem experimentado um grande amor na juventude, de certo, sentiram falta e estariam agora mirabolando alguma máquina do tempo para ter outra chance. Eu posso ser uma delas ou não, quem sabe?

Em se tratar da representação deste sentimento como um talento, vem, é claro, de experiências (evidentemente posso estar errado, e devo até estar, mas só afirmarei isso quando tiver um argumento convincente). É como se um discípulo de um certo monge, que certo dia trará uma cesta vazada (aquelas de palha mesmo) e pedisse para o seu discípulo trazer água do riacho para o topo da escadaria do mosteiro. Mas como poderia fazê-lo? Não restaria água alguma. Mesmo assim, teria que cumprir a tarefa do monge. Fez uma, duas, três... até perder a paciência com todas as tentativas frustradas e questionar o monge a respeito desta sua atividade, pré-julgada sem propósito, inútil, etc. Como todo monge (risos), sabiamente a atividade foi justificada: "Por mais que você passe por todas as situações possíveis, boas ou más, haverá uma sobrecargar de informações que jamais trará resposta alguma. Mas veja a cesta, não suportou segurar a água, porém ficou toda enxarcada. A mente não processa ou interpreta tudo para nos dar respostas, mas as experiências ficam, e ainda assim você aprende com elas".

Não sei se fui claro, acho que não.

Como diria Confúcio (ou Kung-Fu-Tse), filósofo chinês do século V-IV a.C.:
"Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo".

Quanto a substituição do sentimento por talento se refere a habilidade. Um sentimento existe ou não existe. Não tem isso de existe um pouco, etc. Ou é ou não é. Todavia, uma habilidade pode ser intensa, mediana, fraca ou inexistente. Das duas uma, ou eu sou completamente hábil a ponto de melancolizar um filme de Almodóvar, ou pelo contrário, não tenho habilidade alguma, pois melancolizo um filme de Almodóvar. Não há mal pior que o ceticismo, porém até mesmo o amor que não compensa parece ser melhor que a solidão (como diria um amigo meu, "o mal do século").

Eu sei que não sou um poeta, um escritor, ou compositor. Eu sei que não escrevo coisas bonitas, mas isso não faz de mim menos artista quando se trata de sentir. Eu sei também, que posso ter até mais "habilidade" que certos cretinos que tem o dom da palavra.

Um forte abraço,
Jorgin, O Maneiro