quinta-feira, 5 de maio de 2011

Núbia, fêmea sonhadora

Um desejo concedido para uma jovem amargurada.




Sob todas as formas de galanteios, para esta jovem raros são aqueles úteis. Um grande dilema para seus pais fora ter que escolher um nome elegante para sua primeira filha. Núbia, um nome forte para uma garotinha, parecia perfeito para a condução de uma mulher firme e racional. Esforço em vão. Apesar de Núbia parecer sempre rígida, superior e jamais suspirar, todas as suas canções são de amor, seu caderninho verde que traz sempre contigo é alvo de intimidação para todos aqueles encantados, provocando a racionalização de teorias conspiratórias, quando não, no fluxo elevado das imaginações alheias. O fato é que tal curiosidade abrilhantava ainda mais o seu charme.


Um vestido florido rodado, no braço direito dois trancelins de conta para se proteger e uma sandália artesanal. Joga parte de seus cabelos negros e lisos sob o ombro, olhar tímido e sempre a sorrir levemente, mesmo quando não há graça nos corredores da universidade, repartindo qualquer um que cruze passagem em antes e depois.

Sua primeira lembrança é um tanto quanto frustrante. Tudo o que uma criança quer quando passa a ter idade de duas mãos é largar os apoios de rodeirinha da bicicleta. Ela jamais teve coragem para isso. Seus pais tentaram de tudo. Sob aquela morena radiante, cuja postura e nome eram repletos de força, havia ainda uma menininha cheia de receios com o mundo, cujo livro de cabeceira (Orgulho e Preconceito, de Jane Austen) – totalmente marcado à lápis por entre as linhas mais impactantes – já estava surrado de tantas leituras e reflexões.

Núbia tinha dificuldade com seus relacionamentos. Como toda sua vida, foi sempre ambígua. Queria parecer firme nas decisões, baseava seus namoros na lealdade, fidelidade e respeito, mas intimamente o que ela queria era um chamego como conto de fadas. Ainda pensava que o amor era uma marcha para vitória. Uma pena descobrir isso da pior forma. Amor nunca quis dizer paz.

Quebrar seus paradigmas foi o esforço de alguns amigos seus, mas como um pombo com a asa quebrada, por mais que queira voar o máximo que conseguirá será apenas alguns saltos. É duro ter que ouvir de alguém como Núbia palavras de covardia, tentar acalentar seu pranto não é mais tarefa fácil como antes, pois todo consolo é invalidado quando se pensa que não há nada mais o que fazer, que assumir a culpa e se flagelar é tornar um cenário degradante, impróprio para seus devaneios.

Não existe coisa mais triste que viver uma mentira. Demorou para ela perceber isso.

Apesar de esforços, nem sempre a vida da gente está afastada demais dos clichês. O coração é um só, seja aquele da idade média, seja aquela do facebook. Não há erro ou acerto, apenas tentativas. Afinal nada disso é racional.

Hoje ela está embriagada numa escada, amanhã provavelmente de ressaca. Seguirá assim por algum tempo sem perspectiva alguma. Até que um dia chegará alguém oferecendo um drinque. No meio da madrugada ele apostará vinte reais num beijo sem que toque os lábios. Ela duvidará e aceitará a aposta. Ela fecha os olhos. Ele beija seus lábios e perde as vinte pratas propositalmente.

No fundo, desde o princípio Núbia sabia que ganharia a aposta, é o tipo de galanteio que ela gosta. Para ela, assim como para os outros, achará que esta é a única pessoa com quem ela conseguiu dançar. Mas a questão não é essa, é sempre mudar a melodia.




Um abraço,
Jorgin, O Maneiro


PS: Qualquer semelhança é mera coincidência.

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